Glória à Nossa Pátria livre
Hoje
é dia 24 de novembro de 1963. Meu nome é Lee Harvey Oswald. Tenho 24 anos. Estou
na cadeia municipal de Dallas, Texas. Eu estou morrendo.
Nasci
em Dallas, Texas. Desde criança eu tive uma vida difícil. Meu pai morreu alguns
meses depois que nasci e minha mãe criou eu e mais dois irmãos sozinha, por
isso eu morei em vinte e duas cidades diferentes e já estudei em 12 escolas. Os
professores me consideravam um “aluno difícil” e falavam para minha mãe que eu
era uma criança reservada e temperamental, por isso eu comecei a frequentar
psicólogos e psiquiatras bem cedo. Eu tinha oito anos quando um psiquiatra me
diagnosticou com um desvio de
personalidade patente, com características esquizoides e
tendências passivo-agressivas,
até hoje eu nunca entendi o que ele quis dizer com isso, só sei que depois disso
comecei a tomar remédios que me deixavam com sono.
Pelas dificuldades financeiras que tínhamos, quando eu tinha
quinze anos, minha mãe me deixou em um orfanato por treze meses. Como era do
lado da biblioteca pública, muitas noites eu fugia do orfanato para roubar
alguns livros. Eu não sabia escrever e soletrar muito bem, mas minha leitura
era rápida e precisa, nunca perceberam que faltavam livros, mas eu sempre
devolvia. A seção que chamou mais a minha atenção foi a área da sociologia, lá
eu conheci Karl Marx, um filósofo e sociólogo,
que com a ajuda de Friedrich
Engels desenvolveu vários livros que falavam sobre os ideais socialistas e os
problemas capitalistas. Eu me apaixonei pelos ideais marxistas, eu queria viver
o socialismo, queria ser um cidadão soviético.
Meu irmão Robert fazia parte da Guarda Costeira, eu o
venerava e ele sempre me deixava usar o anel de fuzileiro. Eu me sentia forte,
importante e poderoso sempre que eu o colocava entre meus dedos. Com 17 anos,
antes de completar o ensino médio, eu me alistei no Corpo de Fuzileiros Navais.
No treinamento de fuzileiro fui treinado com rifle M1
Garand, realmente havia nascido para isso, tinha uma boa mira, posição de braço
e desenvoltura com uma arma. Mas devido aos problemas psicológicos, minha
principal posição era de operador de radar. Na época me senti desvalorizado, era
um cargo sem muita importância, mas o que eu não sabia era que as informações
que tinha com esse cargo seriam de suma necessidade para mim um dia.
Após a formação do curso eu fui realocado para a base aérea
de El Toro, Califórnia. Foi a primeira vez que vi o mar. Lindo, azul e infinito
aos nossos olhos. Gostava do clima de lá, mas só fiquei por três meses naquela
base, pois viram que desempenhava brilhantemente o meu trabalho, então me
mandaram para Atsugi, Japão, porque era a base que comandava os aviões espiões
que sobrevoavam a União Soviética. Foi nesse período que descobri a preciosidade das informações que tinha como operador do
radar. Certo dia estava lendo escondido O Manifesto Comunista e ouvi uma
conversa entre dois fuzileiros, o pouco que escutei já deu para entender que os
dois estavam passando informações das bases militares estadunidenses para o
governo soviético, isso me interessou muito e fui atrás deles. O modo mais
fácil que achei foi chamá-los e mostrar o livro que estava lendo, porque era um
dos livros mais conhecidos de Marx e citei um trecho que havia decorado:
“Os comunistas não se rebaixam a ocultar suas opiniões e os
seus propósitos. Declaram abertamente que os seus objetivos só poderão ser
alcançados pela derrubada violenta de toda ordem social existente. Que as
classes dominantes tremam à ideia de uma revolução comunista. Nela, os
proletários nada têm a perder a não ser suas prisões, tem um mundo a ganhar.
Proletários de todos os países, uni-vos”.
Deixei bem claro que queria ajudar a União
soviética como um espião na base, ainda mais com as informações do radar que
sabia, era o instrumento perfeito. E assim se passou dois anos, tudo que achava
importante eu passava para um dos fuzileiros e eles encaminhavam para o governo
soviético.
Comecei a estudar russo por conta própria, todos
os livros ficavam escondidos e os estudos eram feitos na madrugada, enquanto
todos estavam dormindo, estava estudando, assim as minhas poucas horas de sono
foram reduzidas há 3 horas por dia, mas por algum motivo o sono não me abatia.
Economizei 1.500 dólares do meu salário. E para ser dispensado antes do tempo
obrigatório dei a desculpa de que a minha mãe estava doente, era uma mentira porque
desde quando comecei o curso de fuzileiro eu não falava mais com ela, às vezes
via meu irmão e acho que ele avisava a minha mãe de como estava. Tirei um
passaporte, enviei currículos fictícios para diversas universidades europeias
para eu conseguir um visto de estudante. Estava determinado a morar na União
Soviética.
Depois de alguns meses finalmente consegui um
visto de estudante que permitia minha entrada no mundo socialista. Quando
cheguei, deixei bem claro a minha agencia de viajem que gostaria de me tornar
um cidadão soviético, o que causou certo espanto as pessoas, mas me auxiliaram
com as documentações, dias depois recebi um aviso dizendo que meu pedido de
cidadania foi negado. Entrei em desespero, não sabia mais o que fazer da minha
vida. E com um pensamento momentâneo entrei na banheira do hotel e cortei meu pulso,
a única coisa que queria naquele momento era a morte. Quando eu comecei a ficar
tonto, uma faxineira abriu a porta e viu a minha situação, ela chamou os
seguranças, eles chegaram e ligaram para o hospital, tudo foi ficando escuro,
as vozes longes, estava calmo e pronto para a morte. Minha visão começou a
clarear e me vi em um lugar todo branco e Karl Marx na minha frente, me olhando
com um olhar indiferente. Queria falar o quanto o admirava, mas a minha voz não saia,
então Marx falou:
“Não é a
consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser
social que lhe determina a consciência.”
Acordei gradativamente e de repente no hospital,
com uma bolsa de sangue sendo injetada em mim, meu pulso estava enfaixado e
minha cabeça doía. Tinha um homem em pé ao meu lado. Ele se identificou dizendo
que era do governo soviético e queria ter uma conversa comigo. Ele perguntou
quais informações eu trazia das terras americanas. Eu disse:
“Estão
fazendo testes de bombas de hidrogênio, o que tudo indica é que pode causar um
estrago maior do que as bombas nucleares, os Estados Unidos também criou uma
organização espacial, mais conhecida como NASA, mas até hoje não fez grandes
avanços e o governo americano está influenciando a tecnologia bélica.”
Ele disse:
“Sr. Oswald, a União Soviética tem estudos mais avançados que os Estados Unidos
sobre o espaço e nós acreditamos no nosso potencial bélico, mas ainda assim o
governo Soviético agradece pelos seus serviços durante sua estadia na base
militar dos Estados Unidos, e reze para que o seu governo não nos ataque.”
Após me recuperar e passar por alguns exames psíquicos,
procurei a embaixada dos Estados Unidos em Moscou para renunciar a minha
cidadania americana. Então me mandaram para Minsk, empregaram-me em uma fábrica
de eletrônicos, morava em um apartamento mobiliado pela empresa e recebia um
grande beneficio da Sociedade Russa da Cruz Vermelha.
Nessa
época conheci Marina Prusakova em um baile de ano novo, era uma linda estudante
de farmácia por quem me apaixonei, tinha cabelos loiros e olhos azuis, sua pele era branca e
suave, como se o sol nunca tivesse encostado em sua linda pele, morava com os
tios, por que os pais haviam morrido de um acidente de carro, mas apesar disso
era sorridente, feliz com a vida e eu sentia que meu sentimento por ela era
recíproco. Após seis meses que nos conhecemos a pedi em casamento, não tinha
nada a perder, nosso relacionamento era forte e era isso o que queria para a
minha vida. Ela aceitou e não teve festa, o importante era estar com ela. Um
ano mais tarde nasceu nosso filho, June.
Depois de quase um ano de espera e burocracia dos
meus documentos para me tornar um cidadão soviético, nós decidimos ir morar nos
Estados unidos. Providenciamos toda a documentação e embarcamos. Quando chegamos
eu vi muitos repórteres vindo em minha direção, e apesar da bagunça, consegui
entender algo como: “ Como você se sente sendo chamado de o ‘Americano que
havia desertado para a União Soviética e voltou’?”
Estava muito confuso com tudo
aquilo e sai sem falar nada. Fomos para a casa da minha mãe em Dallas, Texas. Comecei a escrever sobre as minhas memórias da vida soviética,
porque sentia que precisava passar esse conhecimento para alguém, o havia denominado de The Collective, mas como nos últimos anos
minha dislexia piorou foi muito complicado escrever três paginas, então desisti
e fui viver mais um pouco.
Eu não queria que Marina aprendesse a falar
inglês, pois ela era a única coisa que me restava da União Soviética, mas o
vizinho tentava interagir e ela tentava entender, isso fez com que uma crise de
ciúmes invadisse minha mente por alguns meses e comecei a espancá-la, a minha
sorte era que ela me amava muito e não me deixou por isso. Ela só poderia ser
minha e de mais ninguém, era a única lembrança da minha terra soviética. Ai que
saudade da minha terra.
Certo dia eu recebi uma carta que dizia:
“Prezado Sr. Oswald,
O senhor deve ter conhecimento de que nos Estados
Unidos existem muitos espiões soviéticos em pontos estratégicos do país, pois
estamos vivendo em uma época que os governantes chamam de Guerra Fria, o que
nada mais é uma expressão para uma guerra diplomática entre Estados Unidos e
União Soviética, mas é uma guerra indireta, pois não há sangue derramado, mas o
país que consistir um maior poder bélico e tecnologia espacial é o mais
importante e perigoso. É uma época de ameaças constantes, a qualquer momento
pode ocorrer a terceira guerra mundial, mas para que isso não ocorra, nós
colocamos espiões para que não sejamos surpreendidos.
Temos espiões dentro da Casa Branca, pessoas de
confiança do presidente americano fazem parte do nosso plano de espionagem, e
ontem eu soube que o presidente John Fitzgerald Kennedy irá fazer
um tour pelo país para fazer sua campanha de reeleição, e uma das cidades que
está ele irá passar vai ser Dallas, Texas. E é ai que precisamos de você.
Sabemos que você tem uma grande desenvoltura com rifle M1 Garand, e nós queremos que você
tenha a honra de matar o presidente dos Estados Unidos.
Se você estiver interessado nesse convite vá até a biblioteca
pública, do outro lado da rua tem um banco virado de frente para a mesma. Como
sabemos que você conhece aquela região muito bem, também sabe que existe um
buraco em baixo do banco, lá haverá uma carta. Se isso não lhe interessa,
simplesmente ignore e continue a sua vida. A União Soviética pede seu sigilo
sobre esse assunto.
Att. Sua Terra Querida”
Fui imediatamente para a biblioteca municipal. La
sentei no mesmo bando de quando eu tinha 15 anos e lia os livros escondidos na
madrugada. Peguei a carta que estava dentro do buraco e comecei a ler:
“Prezado Sr. Oswald,
Se você está lendo essa carta é porque aceitou a
nossa proposta. Nós já temos um plano, só precisamos que você o execute com
perfeição.
No dia 22 de novembro 1963 ás 12:30 horas, o
presidente dos Estados Unidos, John Fitzgerald Kennedy, irá passar
com um carro aberto pela avenida principal de Dallas. Você tem três meses até
essa data. Nesse tempo você vai conseguir um emprego na única livraria que tem
nessa avenida, ela tem seis andares, você vai conseguir a confiança da dona
para que ela deixe que você feche a loja esse dia. Você irá para o telhado no
prédio e é de lá que você irá matar o presidente enquanto ele estiver passando
na avenida. Mas tem que ser um tiro certeiro.
Nós sabemos que se os
Estados Unidos descobrirem que estamos por trás desse ataque irá ocorrer a
terceira guerra mundial, então se você desistir, falhar ou for preso,
infelizmente nós teremos que te matar, pelo bem do mundo.
A União Soviética agradece a sua ajuda.
Att. Sua Terra Querida”
No dia seguinte eu fui até a livraria indicada e
levei um currículo. A dona me aceitou e disse que estava a dias procurando
alguém para esse cargo. Minha função era arrumar os livros novos que chegavam,
e eu gostava muito de fazer, eu sempre via os lançamentos. Até o dia eu fui ganhando a confiança de
todos.
Quando o dia 22 de novembro chegou, todos da
cidade estavam eufóricos e eu estava concentrado. Na noite anterior eu havia
deixado a arma dentro da livraria, e como planejado, hoje eu iria fechar a
livraria. Estava tudo certo.
Minutos antes da hora combinada eu fui até o
telhado e comecei a preparar meu apoio e colocar as balas na arma. Eu não
estava nervoso. Só o que passava pela minha cabeça era concluir o meu objetivo.
As pessoas já estavam esperando a passagem do
presidente, muita gente iria ver o meu amor a União soviética.
Vi de longe o carro presidencial vindo. Preparei
a arma. Mirei no presidente. E atirei. Eu havia errado a mira, ela acertou a
garganta do presidente, mas isso não era o suficiente, eu deveria concluir meu
objetivo perfeitamente. Atirei. E o presidente dos Estados Unidos estava morto
com uma bala na cabeça.
Desci correndo as escadas. Joguei a arma no rio
que passava atrás da livraria. Eu escutava o grito da multidão na rua. Sai
pelos fundos e fui ver um filme. Não sei como, mas a policia me pegou dentro do
cinema e me levaram direto para a prisão municipal.
La dentro eu estava pensando em quem iria me
matar. Mas não estava com medo. Aceitei o desafio sabendo desse perigo. Estou
com a consciência limpa. Iria ser removido para uma prisão federal, afinal,
havia matado o presidente John Fitzgerald Kennedy.
E hoje, dia 24 de novembro, é o dia
que vão me remover para outra prisão. Eu estava dormindo e acordei com um
bilhete em cima de mim:
“Prezado Sr. Oswald,
Nós achamos que o senhor saiba que
teremos que lhe matar. Isso vai acontecer hoje durante sua remoção. Irá ter
muitos repórteres, se você quiser dizer suas ultimas palavras nós o daremos
essa oportunidade.
Agradecemos o gigantesco favor que
você nos prestou. Agora sim, você é um cidadão soviético.
Att. Sua Terra Querida”
Chegou a hora da minha remoção. Os
guardas vieram me algemar. Acompanharam-me até fora da prisão. Realmente havia muitos repórteres. E eu sabia que se eu falasse
agora, seriam as minhas ultimas palavras. Então citei a frase que ouvi no
sonho:
“Não é a consciência do homem que lhe determina o
ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência.” “E
meu ser social nesse momento é de um cidadão aceitado pela sua Terra Querida.”
Escutei o
barulho de um tiro. Senti dores no peito esquerdo. Uma lágrima de patriota caiu
sobre o meu rosto. Dizem que quando se está morrendo nós revemos toda nossa
vida como um filme em um piscar de olhos.
Hoje
é dia 24 de novembro de 1963. Meu nome é Lee Harvey Oswald. Tenho 24 anos.
Estou na cadeia municipal de Dallas, Texas. Eu estou morrendo....
Nenhum comentário:
Postar um comentário