sexta-feira, 10 de abril de 2015

Conto - Contos de Taberna

Elias G. Junior

Contos de Taberna

“...e foi neste momento que eu, o grande e poderoso Elvic, um Cavaleiro da Ordem do Amuleto, com meu último golpe de espada, insuficiente para acabar com o grupo de bandidos que nos abordaram na estrada, meu parceiro quase morto no chão ao meu lado estende a mão para mim, estava com ele o Amuleto da Ordem, carregado pelo líder do grupo de Cavaleiros sempre, e cai inconsciente no chão lamacento, depois de ter sofrido vários ataques dos malditos que habitavam a escuridão que estava na estrada. Acordei depois de um tempo, acorrentado numa sala escura, as paredes e o teto eram feitos de pedra lisa, nenhum ruído habitava o local, a não ser múrmuros de pessoas conversando do lado de fora da sala. Ouço o barulho de trancas sendo abertas, muitas delas. Uma pesada e grande porta se abre, uma porta que eu não havia notado que estava ali, era feita de metal, tinha a espessura de minha cabeça, parecia ser feita para impedir que alguma fera terrível entre ou saia, no caso esta fera era eu, então percebi que temiam minha presença ali. No ranger da porta se abrindo vejo duas sombras paradas na frente da porta. O quarto, que estava completamente escuro até ali, se iluminava vindo da tocha que uma dessas figuras seguravam, acompanhado de seu parceiro que empunhava uma enorme espada, com a intenção de proteger o portador da tocha. Eles entram na sala, iluminando mais ainda o local, percebo no canto um baú que continha meus equipamentos. Dois homens encapuzados, usando um manto preto sobre o corpo, acredito que iriam me interrogar, até torturar se fosse preciso, porém estavam com receio de se aproximarem de mim, então perguntei:
– Porque me teme, carrasco?
Ficaram quietos. O portador da tocha dava passos curtos para trás, distanciando-se de mim. Sinto um tremor forte que faz os carrascos de desequilibrarem e quase cair no chão, ouço também muita movimentação pelo lado de fora da sala, pessoas correndo e gritando, espadas batendo em escudos e em carne, de repente o silêncio toma conta do lugar novamente, os homens estavam aflitos, olhando um para o outro, suando descontroladamente. A tocha se apaga repentinamente, fazendo a escuridão se espalhas pela sala novamente, não fui o responsável por isso, mas um dos homens grita para o outro:
– Sabia que trazer este cara aqui era má ideia, MÁ IDEIA!
Neste momento a porta se abre e se fecha rapidamente, alguém entra e se esconde nas sombras, ouço barulho de lâminas cortando algo, a tocha se acende, um homem, vestindo uma roupa de couro tingida de preto, cabelos pretos e uma barba rala, com um sabre na cintura e a tocha na mão procura algo nos corpos dos dois carrascos, mortos e cobertos de sangue no chão. Pega uma chave, destranca as correntes em que estava preso e me diz:
– Seja rápido, pegue suas coisas no baú e me siga até a saída, não temos muito tempo até este castelo desmoronar.
– Castelo? Mas nesta região da Inglaterra não há nenhum castelo. – Afirmei.
– Não há tempo para explicar agora, precisamos correr.
 Vou correndo para o baú, coloco minha armadura, pego a minha espada e o meu escudo, e coloco o Amuleto da Ordem, dada pelo meu amigo momentos antes de sua morte, que estava em minha braçadeira, e vamos correndo para sair rapidamente do castelo.
– Conheço um caminho para sairmos daqui sem que os soldados nos percebam, me siga e não faça barulho. – Diz o homem que veio me salvar.”
– Estou com a garganta seca, – afirma Elvic – depois desta longa história mereço um descanso e uma grande caneca de Hidromel.
O taberneiro traz um grande barril e muitas canecas para a mesa do contador, que esta rodeado de muita gente.
– Já que você alegrou e deixou este tanto de gente curiosos na minha taberna, esta rodada e por conta da casa – diz o taberneiro que seguido de suas palavras, todos os ouvintes gritam de alegria.
Enquanto Elvic se embebedava de Hidromel, um homem senta de seu lado e diz:
­– Que história incrível, estou muito curioso para ouvir o resto...Mas aquele homem que te desprendeu das correntes, não seria aquele ali? – Aponta para um homem sentado, distanciado do resto das pessoas, admirando a musica do bardo.
– Como descobriu? – diz Elvic – A minha descrição dele ficou muito vaga.
– Presto muita atenção nas pessoas que estão ao meu redor, muito mais nas informações que me dão e que considero importantes, mas isso não importa, você sabe o que realmente este homem é?
– O que seria ele?
– Um ladrão e um assassino, senhor.
– Já ouvi essa história rapaz, mas não me importo,Telstan salvou a minha vida! E deste então ficamos muito amigos.
– Ele foi pego em um de seus crimes, há muito tempo, foi julgado culpado e iria para a forca, e momentos antes da execução, por motivos que desconheço, foi inocentado e recebeu o perdão real. – Sem que Elvic perceba, ele coloca a mão no bracelete que estava usando e retira o Amuleto, o presente dado pelo seu amigo antes de morrer na emboscada dos bandidos, feito de pedras preciosas que julga ter alto valor, esconde em seu bolso e continua a conversa.
–Como já disse, não me importo com essas ladainhas, agora por favor me deixe terminar minha bebida. – Diz Elvic, um pouco nervoso com o homem, que percebendo tal reação do Cavaleiro se levanta pedindo desculpas se afasta de Elvic.
 Enquanto isso, do outro lado do salão, se encontrava Telstan, prestando atenção na historia que Elvic, seu amigo, contava sobre sua aventura.
Ao fundo, havia o suave som de um alaúde, sendo tocado por uma bela mulher, ela encantava todos os que estavam ouvindo sua melodia, Telstan era um deles, estava afastado de todos para ouvir a bela mulher cantando.
Todos começavam a se reunir em volta da mesa de Elvic, esgotado o barril, continuava a contar sua história.
“Segui o tal homem, me esgueirando e tomando muito cuidado para não fazer barulho. Ele me levou até um salão vazio, havia uma mesa muito longa no centro e na ponta um enorme trono, atrás deste trono existia um alçapão escondido debaixo de um tapete.
–É por aqui, venha – disse o tal homem.
Uma escadaria nos levava até um corredor, repleto de tochas nas paredes, infinitamente até as perderem de vista. Seguimos o túnel por muito tempo, enquanto corríamos eu tentava dialogar com ele:
– Afinal, quem é você e o que faz aqui?
– Me chamo Telstan, há umas três semanas estava seguindo você e seu grupo de cavaleiros, precisava alertar vocês, a mando do Rei Durian, sobre a emboscada dos bandidos na estrada mas cheguei tarde demais, vi a emboscada e resolvi esperar, mas seu grupo não resistiu, existam muito mais deles escondido na floresta na beira da estrada, quando você desmaiou te colocaram em uma carroça e partiram em viagem para o norte, segui eles por cinco dias até que chegaram aqui, me infiltrei algumas vezes para saber mais informações sobre o que acontecia aqui enquanto estava preso, mas sem sucesso, até que achei esta passagem secreta que o dono do castelo, o Rei Ecbert, usava em casos de emergência e que usei para chegar até você. O Rei Durian, que acabara de descobrir sobre os planos de Ecbert e havia convocado vocês, Cavaleiros do Amuleto, vir ver o que ocorria por aqui, mas um espião de Vossa Majestade disse que já sabiam que estavam chegando, não sabiam que vocês vinham para somente conversar e armaram uma emboscada, bandidos a mando do Rei Ecbert, depois de saber pó que aconteceu com seu grupo o exército de Durian vinha do sul para destruir as forças de Ecbert e está acontecendo um cerco a este castelo e as catapultas já estavam armadas para destruir o local e todos que estavam dentro. Precisava te avisar que aqui, o Rei Ecbert estava armando um exército para destruir as forças de Durian e tomar a capital e o país para si.
– Então tu és um espião real?
– Não, isso não. Sou só um homem que trocou sua liberdade e sua vida para fazer favores ao rei.
Quando chegamos ao fim do túnel havia uma escada levando para a superfície, quando subimos eu vi, milhões e milhões de soldados, desapareciam no horizonte e na nossa frente Rei Ecbert e sua família amarrados no pé de uma árvore e na sua frente, montado em um cavalo e cercado de soldados estava o Rei Durian, sentenciando-os a morte por traição à coroa absoluta, depois de tudo voltei para casa.”
Todos gritavam bêbados quando a história acabou, Elvic se levanta, paga a sua parte ao taberneiro, se despede de seus ouvintes, pega sua espada que estava encostada na parede, mas ele percebe que seu Amuleto da Ordem não estava mais em seu bracelete, como já estava um pouco alterado por causa da bebida tira sua espada da bainha, crava na mesa chamando a atenção de todos e grita:
– Alguém por aqui não conhece o significado de Autoridade. Guardas, não deixem que ninguém saia deste estabelecimento até eu achar o ladrão que roubou meu Amuleto Da Ordem e cortar a mão do mesmo. – Dito isso, rapidamente os guardas que estavam fora do local cuidando dos cavalos trancaram a passagem, bloqueando a saída de todos. –Se o bandido não aparecer irei revistar cada um daqui.
Logo levanta o homem que falava sobre o passado de Telstan para Elvic, aquele que o julgara ser um ladrão e diz:
– Isso não será preciso, é óbvio que temos o único suspeito que cometera tal ação, Telstan! – Apontando para o homem isolado no canto da sala – No passado ele foi julgado por cometer crimes terríveis, inclusive o de furto, e é claro que gente assim nunca muda.
Logo Telstan se levanta e vai para cima do homem, coloca uma adaga no pescoço dele e diz:
– Como ousas fazer esta afirmação sobre mim? Eu estava sentado lá o tempo todo, como podia ter roubado algo que nem cheguei perto? Irei provar – Ele esvazia os bolsos para provar que não tem nada dentro – Estão vendo? Estou limpo, não tenho nada a ver com isso. – E volta para sua cadeira no canto da sala. Neste momento o homem tenta plantar o Amuleto no bolso de Telstan, mas não consegue e coloca de volta em seu bolso.
Vendo a situação, a mulher que estava tocando alaúde diz:
– Eu sei quem roubou a sua joia, Nobre Cavaleiro. Foi este homem que acusa Telstan de ter feito isso, tentando tirar a suspeita de cima de si.
Dito isso, Elvic aponta a espada para ele e o manda esvaziar os bolsos. Ao mesmo tempo em que vê a joia sendo tirada do bolso do homem, Elvic difere um golpe com a espada no punho do ladrão a fazendo desprender do braço, caído no chão somente a mão toda ensanguentada.
– Guardas, tirem este bandido daqui e o deixem apodrecer na prisão pelo resto de sua maldita vida. – Os guardas pegam o homem e o levam para o quartel.
Elvic pega seu amuleto da mão que esta no chão, limpa e coloca novamente em seu bracelete. Pede desculpas para o taberneiro pelo ocorrido, se despede de seu amigo e vai para casa.    
Fim.


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